— Não convidou mesmo — ele disse, entrando assim mesmo e vendo o sanduíche pela metade sobre a mesa. Ele o abriu para examinar o recheio. — Queijo. Você precisará mesmo manter seu nível de cálcio.
— Arthur...
— Lua?
— Você não acha que está indo longe demais? Você não acha que já me insultou demais? Já disse, eu desmaiei e tive tonturas porque estava sem comer, só isso.
Ele pôs o pacote ao lado do sanduíche, sobre a mesa.
— Vamos saber em poucos minutos, não? — disse, dando um risinho. — Você pode fazer esse teste a qualquer hora do dia e obter um resultado exato — assegurou-lhe.
— Um resultado negativo, você quer dizer.
— Lua, você não estava tomando pílula. E eu não usei nenhuma proteção. Você foi a um médico para tomar a pílula do dia seguinte?
— Claro que não! — ela ficou apavorada diante da idéia.
— Achei mesmo que não — aceitou Arthur. — Você ficou menstruada depois que dormimos juntos?
Ela ficou toda vermelha.
— Veja bem...
— Ficou? — insistiu Arthur.
Ficou? A menstruação de Lua nunca fora regular, por isso ela não prestava muita atenção às datas; apenas lidava com o assunto quando acontecia. Mas, não, Lua achava que não...
Ela agarrou o pacote da farmácia e saiu correndo da cozinha. Faria o teste para mostrar a Arthur, de uma vez por todas, que não estava grávida. E então ele iria embora e a deixaria sozinha.
Azul. A pequena faixa no visor era azul. Azul significava positivo.
Lua se sentou no chão do banheiro, com a cabeça entre as pernas e respirando rápido, tentando não desmaiar outra vez. Sem acreditar no resultado, pegou o segundo pacote, Arthur quisera ter certeza!, e fez o teste de novo.
E de novo a faixa no visor era azul. Lua estava grávida, com certeza. Grávida de Arthur Aguiar. Um bebê que ele não queria. E será que Lua o queria? Ela nunca pensara no assunto. Ou, se pensara, imaginara um filho como fruto de um casamento. E não como fruto de uma intensa noite de amor com Arthur Aguiar! O que ela faria agora?
Estava grávida. Havia uma vida crescendo dentro daquele corpo. Um filho ou uma filha. Mas não era só dela. Era o filho ou a filha de Arthur também!
Aí é que estava o problema. Pelas acusações, ele achava que ela engravidara para se aproveitar dele de algum modo.
— Lua? Tudo bem? — perguntou Arthur, dando uma batidinha na porta do banheiro.
Ela podia muito bem mentir. Era uma idéia. Podia dizer que o teste dera negativo... Mas ele não acreditaria e insistiria em estar presente quando o teste fosse refeito! Por que ele sabia, de algum modo, sabia que ela estava grávida.
— Lua? – insistiu, apreensivo.
Ela respirou fundo e mordeu o lábio antes de gritar:
— Vá embora!
Fez-se um silêncio do lado de fora, e então Arthur se pôs a tentar abrir a porta, muito impaciente.
— Abra a porta, Lua! – ele mandou.
— Eu disse para você ir embora!
— De jeito nenhum! – respondeu, determinado — Ou você abre esta droga de porta ou então saia do caminho por que vou derrubá-la!
— Eu estou grávida – gritou Lua, com a porta ainda trancada — Você estava certo o tempo todo e eu estava errada. Porque eu estou grávida! — ao dizer aquilo, Lua pareceu perceber o que realmente estava lhe acontecendo.
Não conseguiu pensar em mais nada, porque a porta caiu ao lado. Atordoada, ela ficou encarando Arthur.
— Você realmente derrubou a porta — ela murmurou, incrédula, vendo o estrago.
— Eu disse que faria isso se você não a abrisse.
— Você não tinha o direito de fazer isso. Não era necessário...
— Claro que era, droga! Você não abria a porta. Eu não sabia o que estava acontecendo.
— Eu estou no banheiro, Arthur. O que eu poderia estar fazendo?
— Não tenho a menor idéia com aquela porta entre a gente. Por isso, vou logo avisando, nunca mais coloque uma porta entre a gente de novo!
Lua ficou só olhando para ele. O mundo enlouquecera? O mundo dela, ao menos. Ela não queria mais ouvi-lo. Arthur não tinha mais os olhos cheios de sofrimento; eles a estavam acusando. Uma acusação direcionada. Tudo porque ele acreditava que ela planejara ficar grávida naquela noite!
Ao sair do banheiro em direção à sala de estar, Lua sequer o olhou. Tudo parecia normal, do mesmo modo que ela deixara naquela manhã, com os móveis em cores autonais que ela e Gina escolheram.
Mas ela própria não era a mesma pessoa que saíra daquele apartamento de manhã. Estava grávida. De Arthur Aguiar. E isso significava que a vida nunca mais seria a mesma.
— Bem, quando é que você vai começar a me acusar de querer dar o golpe do baú? De ficar grávida de propósito só para colocar as mãos no seu dinheiro? Porque você acha mesmo que eu fiz isso, não é, Arthur?
Sim, era o que ele achava. Só que nada disso importava. O que importava é que Lua estava
grávida do seu bebê. O bebê de Arthur.
— Não precisa responder — disse ela. — Eu sei o que você está pensando. Bem, quer saber o que eu acho?
Ele sentiu a raiva se esvaindo ao vê-la realmente indignada e ofendida. Era mesmo uma bela mulher. Uma mulher que ficaria muito mais bela grávida.
— Sim — ele respondeu de forma brusca, sentando-se em uma poltrona. — Estou muito interessado no que você pensa.
— Até agora você não parece muito interessado em escutar o que eu tenho a dizer.
Será que Lua não percebera que Arthur também estava em choque? Afinal ele também não podia acreditar que ela estava carregando um filho dos dois!
Nenhum comentário:
Postar um comentário