segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Doce amor cap.3 part.4

A fotografia era de um menininho de três ou quatro anos. Um lindo menino sorrindo feliz para a lente da câmera. Um menininho com os cabelos castanhos e olhos azuis tais quais os de Arthur...
Pisando firme, ele atravessou a sala para arrancar a fo­tografia das mãos dela, o olhar era frio. Ela engoliu em seco.

— Desculpe... Ele é lindo.
— Sim, ele era.

Era. Então aquele era o filho de Arthur. Lua sentiu um aperto no peito ao pensar que aquela vida e aquela meninice feliz não existiam mais. Como aquilo devia ser duro para Arthur...!

— Desculpe — disse novamente.

Ele pôs a fotografia sobre a mesa com cuidado antes de olhar torto para Lua.

— Você sabe quem é ele?
— Eu... Sim — ela admitiu, relutante. — Uma das me­ninas me contou que você tinha um filho.
— Luke — ele respondeu, com raiva. — O nome dele era Luke.

Luke... Quatro anos. A morte dele foi demais para os pais, que se separaram, incapazes de lidar com o proble­ma juntos.

— Desculpe mesmo — repetiu. — Eu não devia... Por favor acredite quando lhe digo que nunca quis...
— Quis o quê? — perguntou ele, levantando o quei­xo de maneira arrogante. — Intrometer-se? Meter o nariz onde não foi chamada?

Diante daquela fúria, Lua se encolheu.

— Não foi nada disso — protestou. — Eu só vi a foto­grafia e... — e o quê? Ela não estava mesmo se introme­tendo? Bem... sim. Mas sem a menor intenção de irritá-lo. Só estava curiosa.

E por isso ela atraíra mais uma vez a raiva de Arthur. Nada de novo nisso. Mas certamente ele sabia que Lua não tinha a inten­ção de fazê-lo sofrer. Mesmo que parecesse o contrário.

— Desculpe de verdade — disse mais uma vez, firme, antes de passar por Arthur para ir até a cozinha, sentindo que o melhor era deixá-lo um pouco sozinho.

Parecia que era uma tarde de irritações. Para Arthur, no que dizia respeito ao filho, e para Lua, toda intrigada e curiosa sobre a mulher naquele quadro e sobre o homem que o pintou.

Mas ela ao menos era capaz de encontrar respostas para as próprias questões, enquanto Arthur provavelmente ja­mais entenderia por que o filho, um menininho de quatro anos, teve de morrer.
Talvez fosse uma questão de fé. E a morte de uma criança certamente questionava a fé de qualquer pessoa!
Ela levantou o olhar, nervosa, alguns minutos mais tarde, quando Arthur voltou para a cozinha. Ficou satisfei­ta porque ele recuperara um pouco a cor e parecia menos mal-humorado.

— Tirei os ovos e o leite da geladeira. — Lua apontou para os ingredientes sobre a bancada. — Não sei do que mais você precisa.

Ele tirou o paletó e o colocou sobre um balcão antes de pegar uma frigideira que ficava pendurada sobre um balcão no meio da cozinha.

— Queijos ou cogumelos? — ele perguntou, ríspido, ao quebrar os ovos em uma vasilha.

Lua teve de engolir em seco por causa da náusea que estava sentindo.

— Sem nada, pode ser? — ainda era estranho estar ali no apartamento dele de novo, e ainda mais deixando que ele cozinhasse para ela.

Kate, que a vira sair, ficaria mais do que curiosa quan­do Lua voltasse para a galeria!

Arthur estava impaciente ao esquentar o óleo na frigidei­ra e bater os ovos, antes de acrescentar o leite. E estava ar­rependido por ter se oferecido para cozinhar para Lua.

Ele jamais conversara com alguém sobre Luke. Não conseguia. Três anos depois, ainda sofria demais com a morte do filho para falar sobre o assunto. Era por causa desta dor que Arthur e a ex-mulher, Sarah, deixaram de fa­lar um com o outro, nenhum dos dois parecia capaz de pensar em outra coisa quando estavam juntos e, sem con­seguir colocar a emoção em palavras, a coisa
toda era insuportável. Por isso Arthur certamente não pretendia conversar sobre Luke com Lua, uma mulher com a qual passara apenas uma noite!
Ele pôs os ovos batidos com leite na frigideira e os dei­xou cozinhar um pouco antes de virar-se para Lua.

— Garfo e faca estão... Ah, que droga! — praguejou, ao ver que ela, pálida, saía correndo da cozinha com a mão na boca.

Lua mal conseguiu chegar ao banheiro da suíte, iro­nicamente o único cômodo que ela conhecia, e começou a passar mal.
Foi por causa do cheiro dos ovos na frigideira. Aqui­lo lhe incomodara o estômago sensível e o enjôo foi incontrolável.

— Aqui — disse Arthur, colocando uma toalha úmida sobre a testa de Lua. Aquilo era tão humilhante!

Mas não tanto quanto aquela manhã, há seis semanas, quando ele quase a expulsou.
Agachada e segurando a toalha sobre a testa, o enjôo parecia ter passado. Agora, por que Lua estava se sentin­do enjoada sem ter comido nada, a não ser pela barra de chocolate que Arthur lhe dera, ela não sabia!

— Esta se sentindo melhor? — ele perguntou.
— Um pouco... Obrigada. — ela não conseguiu olhar para Arthur.

E só lhe causara problemas naquela manhã. Estava certa de que ele estava louco para se livrar dela.

— Vou só lavar meu rosto e então vou embora.

Lua provavelmente comeria feliz aquela omelete agora que se livrara do que quer que estivesse lhe causando aquele enjôo. Mas, diante das circunstâncias, era melhor não ficar.

— Acho que não, Lua.

Ela levantou o olhar e o encontrou encarando-a, frio e com as mãos na cintura.

— Como assim? — perguntou Lua, intrigada.
— Acho que você não vai sair daqui tão cedo.

Ela arregalou os olhos.

— Mas estou lhe dizendo que me sinto melhor.
— Sim, eu sei disso — ele respondeu, ríspido. — É curioso, mas mulheres na sua condição realmente se sen­tem melhor depois que vomitam — acrescentou.

Lua franziu a testa.

— Minha condição?

Arthur respirou fundo, observando-a como se quisesse estrangulá-la.

— Lua, a não ser que eu esteja muito enganado, e Deus sabe que eu quero estar! — ele murmurou, mal-humorado. — A verdade é que você desmaiou há pouco sem motivo...
— Eu vi um retrato da mãe que jamais conheci! — de­fendeu-se, incrédula.
— O fato de você ter desmaiado, e mais a sua tontura matinal e o enjôo, tudo me faz chegar a uma única con­clusão.
— Faz...?

Um tremor percorreu-lhe todo o corpo e se deteve no estômago.

— Você está grávida, Lua — disse Arthur, de repente — Na sexta semana de gestação, eu diria! — acrescen­tou, mal conseguindo conter a fúria.

Grávida!
Mas não podia ser!
Podia...?

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