Estava tão certo de que Lua Blanco seria como as todas as outras mulheres que ele conhecera nos últimos dois anos, fáceis e desprezíveis. Mas, por algum motivo, não conseguira esquecê-la. A lembrança daqueles olhos e daquele corpo macio vinha à mente nos momentos mais inoportunos. Irritando-o intensamente.
O brilho de raiva nas profundezas daqueles olhos afetuosos e o modo como aqueles lábios carnudos e sensuais se fecharam lhe diziam que a atitude pouco carinhosa dele só a deixara mais furiosa. Mas isso não o incomodava muito.
Não numa relação de negócios. Numa relação pessoal, contudo, Arthur achava aquilo muito excitante!
Lua estava linda, vestida com uma camisa creme por dentro de uma saia comprida até o joelho, exibindo pernas longas e sedosas.
Arthur achava que, com a ausência de seis semanas da galeria de Londres, o desinteresse em cumprir a promessa de telefonar-lhe a própria insegurança o assegurariam de que ele iria se esquecer completamente de Lua Blanco!
Mas antes mesmo de ver o quadro, sabia que não conseguira isso.
Arthur ficou sério ao olhar para onde colocara a pintura, num suporte no canto do imenso escritório, com um pano para protegê-la. Mas também para que Lua não a visse antes de estar preparada...
Lua olhou para Arthur de forma severa ao perceber que ele a continuava observando.
Embora estivesse trêmula por dentro, ela juntou as mãos para evitar que Arthur percebesse.
— Desculpe, mas... Você deveria ter me ligado? — perguntou, com toda a frieza que conseguia fingir.
E que era considerável, pelo modo como a boca afinou-se e seus olhos se estreitaram.
— Está certo, Lua, esqueça isso por um momento — disse Arthur.
— E me diga tudo o que você sabe sobre Andre Souter.
Ela franziu a testa ao procurar na memória por fatos
relevantes sobre o artista, sem ter a menor idéia de por que Arthur estava lhe
perguntando aquilo, a não ser que fosse um esforço da parte dele para provar
que ela não era preparada para o trabalho, tendo assim, uma desculpa para
demiti-la.
Lua engoliu em seco.
— Inglês. Nasceu em 1953. Começou a pintar com 20 anos, principalmente retratos, mas mais tarde se dedicou às paisagens, mais recentemente sobre o Alasca...
— Não estou pedindo uma biografia do cara, Lua! — interrompeu-a Arthur, levantando-se. — Perguntei o que você sabe sobre ele.
— Eu? — perguntou, dando um passo para trás, ligeiramente assustada com aquela agressividade. — Eu acabei de lhe dizer o que sei sobre ele?
— Não seja tão modesta, Lua — Arthur a interrompeu mais uma vez, rindo com os olhos azuis. — Não estou pedindo detalhes, apenas confirmando se você o conhece. E se você pode entrar em contato com ele pessoalmente.
Ela ficou totalmente confusa. A conversa não parecia ter nada a ver com a noite de seis semanas antes, nem com uma tentativa de provar que ela era incompetente. Ao que parecia, tinha a ver somente com Andre Souter. De quem ela era admiradora, mas que com certeza jamais vira, muito menos pessoalmente.
Ela não assumiria o relacionamento, percebeu Arthur, frustrado. Bem, o cara era velho o bastante para ser o pai de Lua, o que talvez explicasse a relutância dela em falar sobre o assunto. Que seja. Ele estava tentando combinar um encontro com Andre Souter há anos. Mas pela primeira vez nem os nomes Arthur Aguiar nem Galerias Aguiar abriram-lhe as portas. E agora parecia que Lua, entre todas as pessoas, podia ser a chave para tal encontro.
Além de decidir que tinha de ficar o mais afastado possível dela no futuro e que não poderia levá-la para a cama outra vez, ele acabara de descobrir que, se quisesse chegar perto de Andre Souter com a proposta de uma exposição de suas obras, então teria de conversar com Lua.
— Veja, Lua, vamos começar esta conversa novamente — sugeriu. —Aceito que ultrapassei o limite da relação patrão/empregado com você há seis semanas, do mesmo jeito que você tem de aceitar que não foi uma escolha só minha, certo?
Ela o fitava com certo deboche. Se ele estava tentando se desculpar pela noite que passaram juntos ou pelo telefonema que ele não deu desde então, era uma tentativa sofrível. Além do mais, um pedido de desculpas era ofensivo, para dizer o mínimo.
Lua estivera tão triste nas últimas semanas, se perguntando o que fizera de errado, o que fizera para que Arthur Aguiar nem ao menos lhe telefonasse ou tentasse se encontrar com ela.
E agora ele surgira inesperadamente, ignorando a noite que passaram juntos antes de conversar sobre Andre Souter, um artista com uma reputação incrível e conhecido como um recluso completo há mais de 30 anos.
Lua percebeu que não entendia Arthur. Agora ela o olhava com frieza.
— Isso é tudo?
— Não, claro... — ele respirou fundo. — Você está tentando me irritar de propósito?
Ela franziu a testa, rindo dele.
— Parece que estou fazendo isso sem nem tentar!
Ele relaxou um pouco e um sorriso de diversão surgiu nos lábios finamente esculpidos.
— Agora entendo por que achei você tão intrigante naquela noite — disse Arthur.
Não era o que Lua queria ouvir. Não naquele lugar. Não naquele momento.
Ela passara a primeira semana em que Arthur estivera em Nova York tendo um ataque de auto-recriminação, querendo desesperadamente que ele telefonasse para anular aqueles pensamentos negativos.
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