domingo, 18 de dezembro de 2011

Doce amor cap.2 part.2

Estava tão certo de que Lua Blanco seria como as todas as outras mulheres que ele conhecera nos últimos dois anos, fáceis e desprezíveis. Mas, por algum motivo, não conseguira esquecê-la. A lembrança daqueles olhos e daquele corpo macio vinha à mente nos momentos mais inoportunos. Irritando-o intensamente.

O brilho de raiva nas profundezas daqueles olhos afe­tuosos e o modo como aqueles lábios carnudos e sensu­ais se fecharam lhe diziam que a atitude pouco carinhosa dele só a deixara mais furiosa. Mas isso não o incomoda­va muito.

Não numa relação de negócios. Numa relação pessoal, contudo, Arthur achava aquilo muito excitante!

Lua estava linda, vestida com uma camisa creme por dentro de uma saia comprida até o joelho, exibindo pernas longas e sedosas.

Arthur achava que, com a ausência de seis semanas da galeria de Londres, o desinteresse em cumprir a promes­sa de telefonar-lhe a própria insegurança o assegura­riam de que ele iria se esquecer completamente de Lua Blanco!

Mas antes mesmo de ver o quadro, sabia que não con­seguira isso.

Arthur ficou sério ao olhar para onde colocara a pintura, num suporte no canto do imenso escritório, com um pano para protegê-la. Mas também para que Lua não a visse antes de estar preparada...

Lua olhou para Arthur de forma severa ao perceber que ele a continuava observando.

Embora estivesse trêmula por dentro, ela juntou as mãos para evitar que Arthur percebesse.

— Desculpe, mas... Você deveria ter me ligado? — per­guntou, com toda a frieza que conseguia fingir.

E que era considerável, pelo modo como a boca afinou-se e seus olhos se estreitaram.

— Está certo, Lua, esqueça isso por um momento — disse Arthur.
— E me diga tudo o que você sabe sobre Andre Souter.

Ela franziu a testa ao procurar na memória por fatos
relevantes sobre o artista, sem ter a menor idéia de por que Arthur estava lhe
perguntando aquilo, a não ser que fosse um esforço da parte dele para provar
que ela não era pre­parada para o trabalho, tendo assim, uma desculpa para
demiti-la.
Lua engoliu em seco.

— Inglês. Nasceu em 1953. Começou a pintar com 20 anos, principalmente retratos, mas mais tarde se dedicou às paisagens, mais recentemente sobre o Alasca...

— Não estou pedindo uma biografia do cara, Lua! — interrompeu-a Arthur, levantando-se. — Perguntei o que você sabe sobre ele.

— Eu? — perguntou, dando um passo para trás, ligei­ramente assustada com aquela agressividade. — Eu aca­bei de lhe dizer o que sei sobre ele?

— Não seja tão modesta, Lua — Arthur a interrom­peu mais uma vez, rindo com os olhos azuis. — Não estou pedindo detalhes, apenas confirmando se você o conhece. E se você pode entrar em contato com ele pessoalmente.

Ela ficou totalmente confusa. A conversa não parecia ter nada a ver com a noite de seis semanas antes, nem com uma tentativa de provar que ela era incompetente. Ao que parecia, tinha a ver somente com Andre Souter. De quem ela era admiradora, mas que com certeza jamais vira, muito menos pessoalmente.

Ela não assumiria o relacionamento, percebeu Arthur, frustrado. Bem, o cara era velho o bastante para ser o pai de Lua, o que talvez explicasse a relutância dela em falar sobre o assunto. Que seja. Ele estava tentando combinar um encontro com Andre Souter há anos. Mas pela primeira vez nem os nomes Arthur Aguiar nem Gale­rias Aguiar abriram-lhe as portas. E agora parecia que Lua, entre todas as pessoas, podia ser a chave para tal encontro.

Além de decidir que tinha de ficar o mais afastado possível dela no futuro e que não poderia levá-la para a cama outra vez, ele acabara de descobrir que, se quisesse chegar perto de Andre Souter com a proposta de uma exposição de suas obras, então teria de conversar com Lua.

— Veja, Lua, vamos começar esta conversa novamen­te — sugeriu. —Aceito que ultrapassei o limite da relação patrão/empregado com você há seis semanas, do mesmo jeito que você tem de aceitar que não foi uma escolha só minha, certo?

Ela o fitava com certo deboche. Se ele estava tentando se desculpar pela noite que passaram juntos ou pelo te­lefonema que ele não deu desde então, era uma tentativa sofrível. Além do mais, um pedido de desculpas era ofen­sivo, para dizer o mínimo.

Lua estivera tão triste nas últimas semanas, se per­guntando o que fizera de errado, o que fizera para que Arthur Aguiar nem ao menos lhe telefonasse ou tentasse se encontrar com ela.

E agora ele surgira inesperadamente, ignorando a noi­te que passaram juntos antes de conversar sobre Andre Souter, um artista com uma reputação incrível e conhe­cido como um recluso completo há mais de 30 anos.
Lua percebeu que não entendia Arthur. Agora ela o olhava com frieza.

— Isso é tudo?

— Não, claro... — ele respirou fundo. — Você está tentando me irritar de propósito?

Ela franziu a testa, rindo dele.

— Parece que estou fazendo isso sem nem tentar!

Ele relaxou um pouco e um sorriso de diversão surgiu nos lábios finamente esculpidos.

— Agora entendo por que achei você tão intrigante na­quela noite — disse Arthur.

Não era o que Lua queria ouvir. Não naquele lugar. Não naquele momento.

Ela passara a primeira semana em que Arthur estivera em Nova York tendo um ataque de auto-recriminação, que­rendo desesperadamente que ele telefonasse para anular aqueles pensamentos negativos.

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