segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Doce amor cap.3 part.3

— Está certo. Conversar não é algo que você faça quando está na cama, não é?
— Insultos não nos levarão a lugar algum, Arthur — dis­se Lua, trêmula. Aparentemente o chocolate não serviu muito para aliviá-la do choque. Na verdade, agora ela se sentia nauseada.

Se bem que não é todo dia que alguém lhe mostra uma pintura que possivelmente seja o retrato da mãe que você jamais conheceu. Um retrato, aliás, que era exatamente aquilo que Arthur dissera sobre ele.
Quem quer que fosse a mulher, Andrew Southern es­tava apaixonado por ela ao pintar aquele quadro. Estava claro em cada pincelada, em cada detalhe da beleza sen­sual da modelo.
Isso queria dizer que o pintor era o pai de Lua?
Ou será que o pai dela era o proprietário que mantivera o quadro escondido do público por todos estes anos? Havia algumas questões que Lua queria respondidas. Mas, por enquanto, tinha de lidar com a desconfiança de Arthur.

— Você pode pensar o que quiser sobre o retrato, Arthur. Sua opinião realmente não me interessa. Eu sei que a mu­lher não sou eu, e isso é o que importa.
— Você realmente espera que eu acredite que, se o re­trato for mesmo da sua mãe, ela estava com... O quê? Vin­te e seis, vinte e sete anos?

Ela deu de ombros para o ceticismo dele.

— Isso se encaixaria perfeitamente no período que Andre Souter se dedicou a retratos. E, só para constar, Arthur, eu não espero que você acredite em nada. Já disse, não me importa.

Lua estava pensando é que deveria encontrar o pintor por si só e perguntar a ela sobre a mulher no quadro. Mas se um homem como Arthur Aguiar, com todo o prestígio das galerias Aguiar, não era capaz de passar pelo agente do recluso artista, como Lua conseguiria?
Ela daria um jeito.
Não podia apenas sair daquele escritório fingindo que jamais vira a pintura. O retrato da mulher que com certeza era sua mãe...
Ela teria de conversar com os pais também, claro. Também não podia simplesmente sair à procura dos pais biológicos sem avisá-los primeiro. Lua lhes devia uma justificativa e eles a entenderiam, com certeza. Os pais a criaram com a noção de que Lua era importante para eles e de que era amada, mas ao mesmo tempo a ensinaram a ser independente mental e espiritualmente. Eles não deixariam de apoiá-la na busca pela mulher do retrato.

— Bem, se isso é tudo, Arthur, acho que vou sair agora. — ela deixou o copo de água sobre uma mesa antes de se levantar.

E ficou tonta no mesmo instante. Na verdade, sentia que estava prestes a vomitar.

— O que há de errado com você? — Arthur deu um pas­so à frente para segurá-la pelo braço, de mau humor. Lua olhou para ele com olhos desfocados.
— Já lhe disse, eu não comi nada hoje no almoço.

Ela tentou se afastar. Aquele simples toque no braço bastava
para lhe causar calafrios. Ela o odiava tanto! E com razão. Arthur apenas a insultara. Não havia nada daquele amante carinhoso de seis semanas atrás. Mas, pelo menos no campo emocional, Lua
ainda reagia ao menor dos toques daquele homem.

— Você vai lá para cima comigo — ele afirmou.
— Lá para cima?
— Não fique preocupada. Não estou tão excitado assim a ponto de arrastá-la lá para abusar de você.
— Mais uma vez! — retrucou Lua, impressionada com o gracejo de Arthur.
— Mais uma vez — ele reconheceu, provocando-a e a segurando firme ao saírem. — Você está fraca por não ter comido e eu tenho comida, em meu apartamento. A coisa mais racional a fazer é alimentá-la — explicou.

Racional? Quando é que o relacionamento deles foi ra­cional?

— Se você puder me dispensar mais cedo, posso ir para casa e preparar algo para comer.

Lua não queria subir para o apartamento de Arthur. O dia fora humilhante o suficiente sem ela precisar voltar ao local onde se rendera a uma ingenuidade estúpida, pen­sando que aquele homem realmente gostara dela!
Arthur ficou sério.

— Não, não vou fazer isso. Primeiro porque você não parece em condições de descer as escadas, e menos ainda de ir para casa — argumentou. — E segundo porque eu não terminei essa conversa ainda. Aquilo parecia perigoso...

— Já disse que não sei nada sobre Andre Souter — insistiu Lua. — Nem onde ele está, nem como posso entrar em contato com ele. Eu queria saber!

Arthur a olhou com a testa franzida. Ela realmente espe­rava que ele acreditasse?
Sim, percebeu ele, impaciente ao lhe vislumbrar a ex­pressão perdida. Isso era exatamente o que ela esperava dele.
Cabia a ele deixar claro que Lua não se daria bem ao tentar convencê-lo. De jeito nenhum!

— Conversaremos melhor depois que você comer — disse Arthur com firmeza, levando-a para fora do escritório.

Ela o fuzilou.

— Você nunca aceita um "não" como resposta?

Ele deu um sorriso malicioso.

— Você deveria saber muito bem que não.

Isso a deixou sem palavras, percebeu Arthur, satisfeito. Aquela boca adorável ficou bem fechada enquanto ambos entravam no elevador para ir ao apartamento dele. O que significava que Lua estava entrando no territó­rio de Arthur uma segunda vez!

— Você aceitaria uma omelete? — ele perguntou, sol­tando o braço de Lua para ir até a cozinha
americana, toda decorada em branco e cromado.

Ela o seguiu, obviamente tão desconfortável quanto Arthur por estar ali. Ele a alimentaria, obteria algumas respostas diretas dela e, então, Lua deveria ir embora... Onde estava ela?
Arthur voltou para a sala de estar e levou um susto ao vê-la sentada, segurando uma fotografia que ficava na mesinha em frente à janela.

— O que você acha que está fazendo?

Lua quase deixou cair a fotografia que pegara para olhar melhor. Ela apertou a imagem contra o peito, perce­bendo, pela expressão furiosa de Arthur, que a pergunta não exigia uma resposta, e ela sabia muito bem o que estava fazendo.

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