domingo, 18 de dezembro de 2011

Doce amor cap.1 part.2

Lua quase sentiu vergonha ao entrar na cozinha ultramoderna, algumas horas mais tarde.

Ao acordar sozinha, na enorme cama de casal de Arthur Aguiar, tendo as roupas de cama desarrumadas como uma prova do sexo fogoso que acontecera ali tanto na noite anterior quanto naquela manhã, mais cedo, como se Lua precisasse de alguma prova, ela pegou as roupas espalhadas, foi para o banheiro luxuoso, tomou um banho e se vestiu antes de procurar por Arthur.

Ele estava ali, na cozinha, de costas para ela e fazendo café, usando calças largas e uma camiseta preta para esconder a nudez.

Lua olhou para Arthur e ficou observando o movimento dos músculos das costas enquanto ele se movia, o cabelo castanho, um pouco grande, sempre penteado.

Com 38 anos, 12 a mais do que os 26 de Lua, Arthur era sem dúvida alguma o homem mais lindo que ela vira. Perfeito, lembrou-se, ficando ruborizada. Sem nem um grama de carne a mais no corpo, e com mãos, que a acariciaram com tanto cuidado, grandes e com dedos finos.

E Arthur fazia amor com uma arte que demonstrava uma experiência à qual ela estava longe de igualar.

Claro que ele fora casado. Por cinco anos, de acordo com Kate, outra secretária da galeria. Lua descobrira isso depois da segunda visita-relâmpago de Arthur, há três meses, quando ele gritara com todos antes de desaparecer novamente a caminho de aterrorizar a equipe da galeria de Paris.

Kate explicara que Arthur podia ser assim às vezes, e que houvera um filho do casamento dele, um menininho que morrera com quatro anos apenas. A morte da criança precipitara o rompimento e o divórcio dos pais, há dois anos, e às vezes ainda empurrava Arthur Aguiar para um inverno de emoções sombrias do qual não conseguia escapar.

Sem se surpreender, Lua realmente não podia imaginar nada mais traumático do que a morte de uma criança. Mas estas informações intrigantes a respeito do patrão apenas fizeram aumentar o interesse por aquele homem enigmático.

Ela o observava, escondida, quando ele visitava a galeria. Lua o vira triste e carrancudo durante aquela segunda visita, depois sorrindo raramente e uma vez gargalhando, o que aliviara as linhas de expressão do rosto forte, tornando-o quase um garoto. Exceto, claro, pela dor profunda que nunca desaparecia daqueles olhos azuis.

Arthur aparecia de vez em quando no trabalho, trazendo energia e vitalidade, inspirando as pessoas ao redor com aquela intensidade, fascinando e intrigando Lua, antes de desaparecer mais uma vez, levando toda aquela vitalidade com ele.

Mas nunca, nem nos sonhos mais ousados dela, Arthur a convidaria para jantar e passar a noite com ele em seu apartamento.
Ele percebeu a presença de Lua antes mesmo de ouvi-la entrar na cozinha.

Sabendo que ela estava ali, parada à porta, em silêncio, atrás dele, enquanto continuava a preparar o café, Arthur atrasava ao máximo o momento em que teriam de conversar. Conversar era algo de pouca utilidade depois que se passava a noite com uma mulher.

Para ele, a manhã seguinte sempre era a pior parte dos relacionamentos breves e sem sentido que tivera antes e depois do divórcio. Conversa-se sobre o quê, meu Deus? O tempo? Sobre quem vai ganhar o campeonato de tênis este ano? Ou o torneio de golfe dos Estados Unidos? Nada disso era assunto para depois da noite de amor!

Mas a alternativa era discutir se eles se veriam de novo, o que era praticamente inaceitável para Arthur. Especialmente nesse caso. Agora ele sabia que cometera um grande erro ao se envolver com Lua Blanco e, certamente, não pretendia consertar a situação fingindo que este relacionamento, um caso à toa?, tinha qualquer futuro.

Ah, bem, hora de encarar a platéia, concluiu Arthur com impaciência, virando-se para Lua. Quanto mais cedo se livrasse daquilo, mais rápido poderia voltar à velha vida.

Lua estava vestida outra vez com a blusa de seda preta e calças justas, também pretas, que usara no dia anterior. O cabelo lhe caía sobre os ombros e a maquiagem tentava, sem muito sucesso, esconder o tom ligeiramente avermelhado do rosto, nos pontos onde a barba de Arthur e a intensidade daqueles beijos arranharam a pele delicada.

Arthur não iria por este caminho! Chega de pensar em como aquela mulher fora intensa e desejosa nos braços dele! Do contrário, acabaria levando-a para cama outra vez.

— Pronta para partir?— perguntou. — Ou gostaria de uma xícara de café antes? — ele estendeu-lhe a cafeteira.
Lua fez uma careta para a falta de sensibilidade de Arthur. Ele mal podia esperar para se livrar dela, não é?

Que tolice imaginá-los passando o dia. juntos, conversando, rindo e fazendo amor de novo...!

— Eu... Acho que não, obrigada — recusou Lua, imaginando se Arthur realmente esperava que ela saísse agora que a noite havia acabado.

Fez-se um silêncio constrangedor.

O que ela está esperando?, perguntou-se Arthur, impaciente. Ele oferecera café, Lua recusara, agora seria melhor para ambos se ela apenas...

— Eu... Talvez seja melhor eu ir embora — disse, constrangida, parecendo sentir a
ansiedade dele. Era quase urna pergunta. Como se ela esperasse que Arthur lhe pedisse que ficasse.

Por que ele faria isso? Eles jantaram. Fizeram amor. Gostaram. E agora estava acabado. O que mais queria dele? Porque Arthur não tinha nada para oferecer!

— Minha amiga provavelmente está se perguntando onde eu me meti — acrescentou ela, franzindo a testa.

Na noite anterior ele sequer se incomodou em saber se a pessoa que dividia o apartamento com Lua era homem ou mulher. Ele estava ocupado demais abafando, atenuando a dor interior para se preocupar.

Mas de repente ficou curioso e se perguntou se Lua Blanco era noiva ou se ao menos tinha um namorado fixo. Ela não parecia o tipo de mulher que se permitia casos fora de um relacionamento. Se bem que também não parecia ser o tipo de mulher que iria para a cama com ele, e veja só como Arthur se enganara!

Isso era extremamente desconfortável, pensou Lua, que continuava parada em pé à porta, sem ter a menor idéia de como deveria se comportar na manhã-do-dia-seguinte. Provavelmente porque fazia muito tempo desde que houvera uma manhã-do-dia-seguinte para ela!


Não que Lua fosse completamente ingênua, ela vivera um relacionamento há alguns anos, quando estava na universidade.
Mas jamais passara a noite no apartamento de um homem, e já que este homem era Arthur Aguiar, seu patrão nos últimos seis meses, o desconforto era dobrado.

Ele parecia meramente aliviado diante da hipótese de Lua sair.

— Tem certeza de que não quer café? — perguntou distraído ao se servir de uma xícara de café, sem açúcar.

A oferta foi repetida mais por educação do que por qualquer outro motivo, percebeu Lua com o coração apertado, quando Arthur se sentou no balcão para beber o líquido fumegante sem nem ao menos olhar para ela.

Ela ficara tão fascinada pela atenção daquele homem lindo e sedutor na noite passada que não conseguiu acreditar na própria sorte quando Arthur pareceu corresponder ao interesse. Mas parecia que ela teria muito tempo para se arrepender.

A saída de Lua para não tornar a situação ainda mais constrangedora do que já estava...

— Estou indo, então — anunciou. — Eu... Obrigado pelo jantar — acrescentou de um jeito estranho.

E por tudo o mais, ela poderia ter dito, mas não disse. Depois das intimidades que eles compartilharam na noite anterior, isso seria realmente vergonhoso. Algo que pretendia jamais repetir, se a condição fosse se sentir assim na manhã seguinte.

Lua parecia um pouco intrigada com a grosseria, percebeu Arthur com certa irritação culpada depois de olhar para ela. Aqueles incríveis olhos dourados estavam alertas e arregalados, e ela ficara ligeiramente pálida diante da falta de entusiasmo dele. O que ela esperava, caramba?! Que ele faria declarações de amor eterno? Que ele diria que não poderia viver sem ela e a convidaria para acompanhá-lo a Nova York?

Droga, isso é a vida real, não um conto de fadas. E eles são adultos, não crianças românticas!

E se divertiram, mas isso era tudo.

— Vou voltar para Nova York ainda hoje — disse-lhe Arthur, distraidamente. — Mas eu ligarei para você — acrescentou, sabendo que não pretendia fazê-lo.

Arthur jamais deveria ter se envolvido com uma funcionária, por isso certamente não pretendia se encontrar com Lua Blanco fora do expediente nunca mais.

Até porque ele sabia que, caso se encontrasse com Lua fora da galeria, eles acabariam na cama, mais uma vez. Mesmo agora, olhando para o biquinho macio daquela boca, para aqueles cabelos loiros e para as sinuosas curvas do corpo sob a blusa, Arthur sentiu uma rajada de desejo, uma ânsia sobre a qual estava totalmente determinado a não fazer nada.

Lua, por sua vez, percebeu com pesar que estava mesmo sendo dispensada. Ela não era tão ingênua a ponto de não saber que, quando um homem diz que vai ligar depois de uma noite daquelas, sem nem ao menos perguntar o número de telefone, significava que ele não tinha a menor intenção de entrar em contato com ela!

Claro que Arthur era um pouco diferente e podia, se quisesse, obter o telefone de Lua com o Departamento Pessoal da galeria. Mas ela não achava que ele fosse fazer tal coisa.

A emoção de jantar com ele na noite passada e das horas que passaram juntos fazendo amor para depois ser dispensada logo de manhã foi a experiência mais humilhante de toda a vida de Lua.

Ela estava demorando demais para sair dali!

Arthur percebeu que parecia que ela iria sair correndo do apartamento sem nem ao menos se despedir. Bem, mas não era isso o que ele queria?

Ele franziu a testa, reconhecendo que não gostaria de ser a pessoa que estava sendo dispensada depois de um caso à toa. Era sempre ele quem dizia adeus, não o contrário.
Arthur levantou-se, sorrindo, e atravessou a cozinha para colocar o braço ao redor da cintura dela e puxá-la para junto de si.

— Adeus, Lua. — murmurou, evidentemente excitado.

Ela olhou para Arthur com os olhos dourados cheios de incertezas.
Droga, ela tinha belos olhos, pensou Arthur, com um gemido contido. Era toda linda, se a memória não o estava traindo. E ele sabia que não estava.

Quem sabe eles podiam se encontrar de novo...

Não! Não seja um idiota, Arthur, ele reagiu, de súbito. É melhor deixar as coisas como estão.

Deixe assim e reze para que, com o tempo, ambos esqueçam o que aconteceu.
Arthur com certeza tinha a intenção de fazer exatamente isso!

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