— O que significa que o casamento vai acontecer logo — acrescentou Arthur, embora não tivesse mencionado todos os detalhes para Lua. — Meus advogados já estão preparando os documentos.
Os advogados...!
Por que os advogados de Arthur estavam tratando dos preparativos? A não ser que ele quisesse que ela assinasse um acordo pré-nupcial, ou algo parecido...
Bem, Lua não assinaria nada disso. Nem agora. Nem nunca. Mas esse não era o momento de brigar. Ela estava preocupada demais acalmando os pais, ainda em choque, para se ocupar com Arthur e seus planos maquiavélicos.
— Talvez um pouco de xerez seja bom — disse o pai, indo até o bar para servir três taças.
— Queremos que você e o papai estejam em Londres para o casamento, claro — disse Lua à mãe, carinhosamente. — Na verdade, vocês provavelmente serão os únicos convidados! — ela não fazia a menor idéia de que preparativos ele estava combinando com os advogados, mas duvidava de que Arthur estivesse planejando alguma festa.
— De jeito nenhum, Lua — intrometeu-se Arthur, calmo. —A menina que divide o apartamento com você também será convidada, claro. E qualquer amigo que você queira. E eu decidi fechar a galeria no dia do casamento, assim todos os funcionários poderão estar presentes também. E meus
pais estarão lá, claro. Assim como minha irmã caçula e a família dela.
Lua não podia acreditar. Ela pensava que o casamento seria algo quase secreto e agora Arthur lhe dizia que estava convidando metade de Londres e todos os familiares.
— Eu estava querendo fazer uma surpresa, querida — murmurou Arthur, aproximando-se de Lua para beijá-la de leve nos lábios e a envolvendo com um braço.
Para impressionar os pais dela, claro.
— Vamos dar um jantar num dos melhores hotéis de Londres — ele disse, mantendo-a bem presa ao lado. —Acho que será melhor reservar-lhes algumas noites extras. Tenho certeza de que Lua vai querer que sua mãe a ajude a se aprontar.
Lua se perguntava de onde estava vindo aquele cuidado todo. Arthur já se casara uma vez, e por isso estava mais acostumado aos preparativos, mas mesmo assim...!
— Só estamos preocupados com uma coisa — ele disse, virando-se para Henry e Maria. — Claro que Lua me contou que foi adotada. Tenho certeza de que ela era um bebê irresistível — acrescentou, ao ver que o pai dela franzia a testa. — Estávamos apenas pensando se vocês têm alguma informação sobre os pais biológicos dela. — Arthur olhava para os dois, curioso. — Porque, já que Lua está grávida, seria útil ter um histórico médico da família — explicou, usando todo o charme que possuía.
Lua não tinha certeza de que os pais cairiam naquela. Henry ainda estava de cara fechada e Maria estava um bocado ansiosa.
— O que você quer saber? — perguntou o pai de Lua.
Arthur deu de ombros.
— Como disse, apenas o histórico médico, coisas desse tipo.
Havia certa tensão no ar, e Arthur se perguntava se Lua também estava percebendo. Naquela circunstância, era uma pergunta perfeitamente
— Talvez vocês saibam o nome da mãe biológica de Lua — sugeriu. — Ou do pai.
— Não — respondeu Henry. — Acho que nunca nos informaram isso.
Seria só imaginação, perguntou-se Arthur, ou o velho estava sendo um pouco ambíguo?
— Eu lhe disse que Mamãe e Papai não saberiam, Arthur — intrometeu-se Lua, dando um sorriso tranqüilizador para os pais. — O Arthur é um bocado exagerado quando o assunto é o bebê. Eu disse a ele que era perfeitamente saudável e que o bebê também será.
Claro que ela não lhe dissera nada daquilo. E, mesmo que tivesse dito, Arthur iria querer uma segunda opinião. A opinião de um médico. Sem querer causar mais tensão, Arthur ainda não contara a Lua que marcara uma consulta para ela na segunda-feira à tarde...
Neste exato momento, porém, Arthur não estava nada satisfeito com a resposta dos pais de Lua.
— Às vezes, no processo de adoção, fala-se do histórico médico, não é mesmo? — insistiu.
— Às vezes — respondeu Henry, lacônico.
— Mas não nesse caso?
— Não. — agora o velho o estava desafiando.
O ambiente deixou de ser afetuoso e ficou cheio de desconfiança. Por quê? O que eles tinham a esconder? Porque eles estavam escondendo alguma coisa. Arthur tinha certeza.
— Ah, bem, só achei que valia a pena perguntar. Mas sei que o médico conseguirá verificar tudo — encerrou o assunto, com uma calma que não estava sentindo.
— Tenho de lhes contar um interessante quadro que Arthur descobriu há uma semana. — Lua mudou de assunto. — Um retrato de Andre Souter. Já ouviram falar nele? — ela perguntou.
Arthur ficou nervoso, sem entender onde ela queria chegar. Claro que não queria que os pais soubessem que a modelo do retrato era ela. Afinal, aquilo não era o tipo de coisa que se podia levar para a casa e mostrar à família. A sensualidade da modelo, Lua, era explícita!
— Claro que já ouvimos falar nele, querida — respondeu Henry. — Um quadro dele vale uma fortuna, não? — perguntou para Arthur.
— Ah, sim, mas Arthur tem uma fortuna imensa, não é, querido? — provocou Lua.
Arthur usara os pais para dela manipulá-la e agora Lua pretendia fazer o mesmo.
Lua não sabia ao certo se Andre Souter responderia à carta. Se isso não acontecesse, ela precisaria de mais informações para conseguir descobrir a origem daquele quadro. E para consegui-lo precisava de um dado que Arthur ainda não revelara.
— Minha fortuna já foi maior — disse ele.
Lua se virou para os pais, certa de que Arthur estava furioso por ela ter tocado no assunto da pintura. Bem, não pôde evitar. Ele fizera as perguntas que quisera sem se importar com ela, e agora Lua faria o mesmo. Sem se importar com Arthur.
Afinal sabia que a modelo do quadro não era ela, mesmo que Arthur fosse incapaz de aceitar tal fato.
— É um quadro desconhecido, pintado há mais de 20 anos — esclareceu Lua aos pais. — Arthur ficou tão feliz com a descoberta, não é, querido? -perguntou, com uma doçura fingida.
— Muito — ele confirmou.
— E como você o encontrou? — perguntou a mãe de Lua, interessada.
— O quadro estava escondido numa casa no norte da Inglaterra — informou Arthur, sem querer se estender.
Pior para ele, porque Lua queria.
— E como era mesmo o nome do proprietário da casa, Arthur? —-perguntou ela de repente. E viu como Arthur ficou furioso.
E daí? Naquele momento Lua estava mais interessada em saber o nome do proprietário do retrato da mãe biológica do que com o desconforto de Arthur.
— Não sei. Mas é óbvio que Henry e Maria não estão interessados no assunto...
— Pelo contrário — interrompeu o pai de Lua. — Parece fascinante — o historiador dentro dele despertou.
Lua novamente riu forçosamente para Arthur, mas o riso se transformou em prazer verdadeiro quando percebeu como ele estava nervoso.
Por mais que pensasse o contrário, nem sempre ele poderia ter as coisas do jeito que queria. Do jeito que estava acostumado!
Já era hora de Arthur dizer a Lua algumas das coisas que ela queria saber.
— Não é — desconversou Arthur, agora mais calmo. — O homem morreu, os parentes encontraram o quadro e o venderam. Fim da história.
— E você vai exibi-lo em uma de suas galerias?
— Não! — ele respondeu, grosseiramente.
Lua se virou, fechando a cara. Se ele não exibiria o quadro, o que faria?
— Não — repetiu Arthur, com menos violência, aparentemente se obrigando a relaxar. — Acontece que eu pretendo manter este quadro só para mim.
— Que ótimo! — disse Maria, inocente. — Mas você terá de deixar que nós o vejamos quando estivermos em Londres.
Arthur estava incomodado, enquanto Lua se divertia! Ela estava um pouco surpresa com a decisão dele de não exibir o quadro, depois de todo o trabalho que teve para comprá-lo. Mas talvez não
quisesse que todos vissem a futura esposa daquele jeito. Ou então o quadro serviria para atormentá-la quando estivessem sozinhos!
Sim, parecia mais a cara do Arthur que Lua conhecia. Ela parou de pensar no assunto. Que sentido fazia pensar no amor que sentia por Arthur quando ele a via apenas como uma posse?
Além do mais, Lua não tinha as respostas que queria.
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