quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Doce amor cap.12 part.2-PENÚLTIMO CAPÍTULO

Só Arthur sabia que o pintor não poderia se livrar daquele sofrimento, assim como ele próprio não poderia. A imagem de Claudia para Andre, e de Lua para Arthur, não podiam ser esquecidas. Era
algo que ficaria com eles para sempre. Claudia e Lua eram o tipo de mulher que os homens amavam por toda a vida.

Jack Garder continuara amando Claudia, mesmo depois que ela o traiu e o abandonou. O retrato pendurado no quarto do velho depois de tantos anos era prova disso. E a dor de Andre Souter por ter perdido Claudia era inconfundível. Arthur sabia, e não tinha dúvidas, de que amava Lua do mesmo jeito e com a mesma intensidade.


— Eu... — Lua parou, umedecendo seus lábios res­secados. — Você percebe que eu sou filha da Claudia? — perguntou a Andre Souter.

Ele riu alto ao olhar para Lua.

— Como eu poderia não perceber? — o pintor se aproximou, com a mão trêmula, para acariciar-lhe, de leve, o rosto. — Você é tão parecida com ela — ele disse. — Muito, muito parecida mesmo.

Lua olhou ressentida na direção de Arthur.

— Sim.

Um olhar que encontrou uma determinação que ela não compreendeu. Se bem que ela jamais entendera Arthur mesmo, então por que isso mudaria agora que ele estava prestes a desaparecer e deixá-la em paz?

Lua se virou para Andre Souter.

— A questão é... — ela deu um risinho. — ... sou sua filha ou filha de Jack Garder?
— Minha, claro! — disse o pintor, franzindo a testa. — Claudia, a sua mãe, não tinha esse tipo de relacionamento com Jack Garder. Na verdade, ela nunca se relacionara com outro homem antes de mim — ele confessou.

Lua ficou pasmada.

— Mas...
— Não houve nenhum homem antes de mim, Lua. — ele disse, sério. — Claudia gostava de mostrar que era louca e indomável, que era até mesmo moderna. Mas, na realidade, era uma mulher doce e encantadora que nunca estivera com um homem. Fiquei completamente perdido quando percebi que era a primeira vez que ela fazia amor. — Andre exalou um suspiro trêmulo. — Meu
casamen­to não era feliz, mas isso não era desculpa para seduzir uma menina ingênua!

Isso realmente não importava para Lua. Ela estava era feliz por perceber que o amor e o cuidado que os pais devotaram a Claudia não foram equivocados, de modo algum, e que ela fora apenas uma adolescente rebelde, como Lua dissera a Arthur.

O olhar de Andre Souter estava cheio de so­frimento.

— Eu tentei encontrá-la. Realmente tentei. — ele olhava para a filha com sinceridade. — Mas ela desa­pareceu.

Lua sorriu, tristonha.

— Eu acho que ela não queria que você a encontrasse, nem ninguém, na verdade. — ela respirou fundo. — Eu não sabia quando lhe escrevi, na sexta-feira, mas... Mas os pais de Claudia só descobriram o paradeiro dela quando receberam um telefonema do hospital. Ela morreu dando à luz a mim — explicou, com o máximo de cuidado que podia. — Eles me criaram e foram os únicos pais que eu conheci.

Andre começou a chorar mais uma vez.

— Todos esses anos... Eu nunca soube o que aconte­ceu a ela, Lua. Por que ela me abandonou tão de repente — ele explicou diante do olhar intrigado da filha. — Até eu receber sua carta esta manhã e ver a fotografia, nun­ca soube que ela estava grávida da minha filha. E nunca, nunca me ocorreu que Claudia pudesse estar morta esse tempo todo. — ele balançava a cabeça, sem poder acredi­tar, como se não suportasse aquela idéia.

Arthur olhava para o homem com admiração, sem saber ao certo se teria a mesma força caso descobrisse que Lua estava morta.

— Ou que você tivesse uma filha? — perguntou Lua, carinhosamente.

Ao olhar para Lua, Andre Souter esboçou uma ale­gria, mas os olhos ainda estavam cheios de sofrimento.

— E que eu tivesse uma filha. Uma linda filha — acres­centou.
— Que, dentro de sete meses, lhe dará um neto — afir­mou Arthur, ao dar um passo para frente e colocar o braço sobre os ombros de Lua.

Ela o olhou, surpresa. O que Arthur estava fazendo? An­dre Souter pai dela, não precisava saber sobre o filho que ela esperava. Não fazia sentido algum, naquela oca­sião, e isso só dificultaria a saída de Arthur, que pretendia deixá-la.

Andre Souter olhou para o jovem com olhos fixos e reflexivos.

— E eu vou ter de mandar preparar minha espingarda agora mesmo...? — murmurou, zombeteiro.
— Não — respondeu Arthur, firme. — Lua e eu nos casaremos. Se ela me aceitar... — ele se virou para olhar para ela, intrigada.

Ela engoliu em seco, balançando a cabeça, sem enten­der o que estava acontecendo.

— Parece que você vai ter algum trabalho para con­vencê-la, Arthur. — Andre Souter entendera o olhar da filha como uma recusa. — Sinta-se livre para conversar com ela em algum lugar mais reservado. Eu ficarei feliz aqui olhando para o retrato de Claudia por mais uma hora, ou seis, ou por toda a vida — disse, sentando-se na pol­trona ao lado do quadro, como se já tivesse se esquecido de que Arthur e Lua existiam, os olhos embaçados, até que as lágrimas começaram a rolar pela mulher que o pintor amara e que jamais esquecera.

Lua levou Arthur até o quarto que ela usara, quando morava naquele apartamento. Agora indicava que um dia ela morara ali.

— Você acha que ele ficará bem? — perguntou Lua, realmente preocupada.
— Eu acho que ele levou 26 anos para se acostumar à idéia de ter perdido Claudia, e agora a morte dela torna a perda ainda mais absoluta — respondeu Arthur, cuida­dosamente. — Com seu consentimento, eu gostaria de dar a ele o retrato. Afinal, a pintura pertence a ele, não acha?

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