— Anime-se, Arthur! — disse Lua depois que saíram do consultório médico. — Isso pode não acontecer!
Já aconteceu, pelo que ele entendia. O prognóstico de Neil Adams fora excelente. Ele os tranqüilizou dizendo que Lua não teria o mesmo problema durante o parto e que, mesmo se tivesse, agora seria capaz de lidar com a situação. O médico lhes dissera para voltarem no mês seguinte, quando então Lua seria examinada. Eles deveriam curtir a gravidez.
Mas isso era algo que Arthur não deixara Lua fazer até agora! Claro que eles só ficaram sabendo da gravidez há poucos dias, mas Arthur sabia que tornara aqueles dias um inferno para Lua. E, mesmo assim, ela parecia feliz e radiante!
Arthur ainda estava chocado por descobrir que aquele retrato era de outra mulher. Claudia, a mãe de Lua. Como ela deve ter ficado impressionada quando ele lhe mostrou o quadro, sabendo que as acusações de Arthur eram infundadas. Deus, chegava a doer quando ele se lembrava das coisas horríveis que lhe dissera! Acusações que certamente mereciam um pedido de desculpas.
Arthur sabia, porém, que devia mais do que isso. Ele devia a liberdade a Lua, além do apoio emocional e financeiro, durante toda a gestação e depois...
Na quinta-feira ela estava tão certa de que não estava grávida, tão convicta de que não poderia estar, que ficou totalmente abismada quando o teste deu positivo. E o que Arthur fizera? Crente de que Lua fora noiva de Jack Garder e depois tivera um caso com Andre Souter, ele a acusara de engravidar intencionalmente para conseguir um marido milionário! Quando o que deveria ter feito era tranqüilizá-la de que tudo daria certo, de que ele cuidaria dela durante a gravidez; Arthur deveria ter dito que Lua não precisaria se preocupar com o bem-estar do bebê, porque ele tomaria conta dos dois.
Ele deveria ter feito isso sem exigir nada, sem nem pensar que ela pudesse se casar com ele, muito menos forçá-la a fazer tal coisa!
Arthur olhava para Lua, admirando-lhe a beleza. Era estranho, mas ela parecia ainda mais linda depois que o médico confirmara a gravidez. Parecia que adquirira um brilho próprio, com os olhos de um dourado profundo e o rosto branco e corado. Ela era tudo que Arthur podia querer numa esposa. Mostrara-se leal e afetuosa em relação aos pais, compreensiva quanto à mãe que morrera no
parto e, acima de tudo, suportara a grosseria de Arthur quando, por dentro, devia estar gritando que era inocente.
Sim, Lua fora boa demais para Arthur, e ele precisava deixá-la em paz.
Ela percebeu que ele não parecia feliz e se perguntava o que o estava deixando tão mal-humorado.
— Eu realmente acho que a Claudia foi só uma adolescente rebelde que se meteu numa situação difícil demais. — começou.
— Podemos não falar sobre isso, Lua? — respondeu Arthur. — Claro que precisamos conversar, mas eu preferiria que esperássemos até chegarmos em cas... No apartamento — corrigiu-se.
Lua deu um risinho ao perceber a troca de palavras.
— Só estava tentando explicar que já passei da fase de ser uma adolescente rebelde. Por isso você não precisa temer que eu repita o comportamento da minha mãe.
— A Claudia era só uma criança.
— Exatamente — concordou. — Só achei melhor esclarecer isso, para o caso de você pensar que o comportamento é hereditário.
Arthur parecia ainda mais distante, se é que era possível. Pessoalmente, Lua se sentiu aliviada ao ver que a verdade viera à tona. Henry e Maria voltaram a Cambridgeshire logo depois do almoço, um lanche preparado por Lua. Ela lhes prometera que ligaria, para contar como fora a consulta com o médico.
Estranhamente, se sentia mais próxima dos pais agora que sabia que eles eram, na realidade, seus avós. E a mãe prometeu lhe mostrar as antigas fotografias de Claudia quando Lua voltasse a visitá-los. Ela pensava em Claudia mais como uma irmã do que como mãe, e a diferença de idade entre elas não era mesmo muito grande.
E o bebê que Lua esperava os ajudaria a passar por cima de qualquer ressentimento que houvesse agora que a verdade fora revelada, mantendo-os unidos, tal como uma família deve ser. Se bem que Lua não tinha certeza, ao olhar disfarçadamente para Arthur, de que ele ainda queria fazer parte daquela família...
Ao chegarem ao apartamento, Lua ainda não tinha tal certeza. Em vez de se sentar, ele começou a andar de um lado para o outro na sala, como um tigre enjaulado.
— O que houve, Arthur? — ela perguntou, com um suspiro. — Você quer cancelar o casamento? É isso?
Ele parou de andar para olhar para Lua.
— É isso o que você quer?
O coração dela afundou. Perguntara sem pensar, certa de que Arthur ainda queria se casar, nem que fosse para ficar perto do bebê. Então ela se lembrou do telefonema de Sarah e ficou triste, porém não recuou:
— Perguntei primeiro.
Arthur sorriu, sem graça:
— Não vamos ficar de joguinhos. — ele a olhava, sério. — O que você quer, Lua?
Ela o queria! Mas o queria por inteiro, coração e mente, não apenas aquela pequena parte que ele queria lhe dar. E ela sabia que Arthur não podia se dar por inteiro. Sabia que parte dele pertencia a Sarah...
Ele estava ainda mais distante do que jamais estivera, o rosto sério e arrogante o mantinha afastado, e nem mesmo a roupa simples, calça jeans e camisa pólo azul, parecia torná-lo mais acessível.
Algo mudara na noite anterior, e Lua não acreditava tinha a ver com o que vieram a saber sobre Claudia. Arthur estivera de mau humor antes mesmo de descobrirem os fatos. Só podia ser por causa do telefonema de Sarah.
Por que Lua não o respondia, droga? Por que não lhe dizia exatamente o que pensava dele, do modo como a tratara, e então saía dali? Era o que Arthur merecia, depois de tudo.
Ele se obrigou a relaxar.
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